terça-feira, 27 de dezembro de 2016

A vida de Carrie Fisher em 28 fotos


Filha de Eddie Fisher e Debbie Reynolds, dois monstros sagrados da Velha Hollywood, Carrie cresceu em meio ao show business. Como não podia ser diferente, seguiu os passos dos pais e ingressou logo cedo em Hollywood. Antes de ser imortalizada pelo papel de Princesa Leia, Fisher participou de alguns filmes durantes os anos 70, como SHAMPOO, de Hal Ashby.

No set do primeiro Star Wars, ela não conseguia se levar a sério. Foi um estorvo as gravações nos estúdios de Londres, principalmente para o diretor responsável. Carrie ironizava constantemente, ao lado do parceiro Mark Hamill, o roteiro de George Lucas. Só depois da estreia, e de todo o fenômeno que foi Star Wars, Fisher vislumbrou a importância daquela saga intergalática. 

Seu vício em cocaína veio logo em seguida. Virou sex symbol, mas não vira sua carreira vingar como nos tempos áureos de Princesa Leia. Alternava participações em filmes menores, com o lançamento de livros autobiográficos e de auto-ajuda. Até que em 1990 viu sua obra literária ser adaptada para a tela. Meryl Streep e Shirley MacLaine deram vida respectivamente ao seu alter ego e o de sua mãe.

Após problemas com drogas, alcoolismo latente e obesidade, sua depressão se intensificou na década de 90, ainda mais depois do nascimento de sua única filha. Em meados de 1997 viu sua personagem Leia ganhando status cult e sempre recebeu o carinho dos fãs. Com a retomada da franquia nos anos vindouros, ela nunca mais fora esquecida.

Até sua participação em O DESPERTAR DA FORÇA que, ao lado de Harrison Ford, retomou seu grande papel. Morreu em Los Angeles, sua cidade natal, após um ataque cardíaco que sofrera em um voo vindo de Londres. Ela tinha 60 anos e muitas histórias.

Sua mãe Debbie Reynolds ainda vive.

 Ao lado do irmão caçula e da mãe, a atriz Debbie Reynolds de CANTANDO NA CHUVA
 Na adolescência ao lado da mãe. Sua relação tempestuosa com Debbie foi relatada em livros
 A púbere Carrie Fisher
 O casamento com o cantor Paul Simon durou poucos meses
 Amigos para vida inteira
 Com Billie, sua única filha. O pai da menina se separou de Fisher, após se apaixonar por outro homem
 Debbie, Carrie e Oprah
 Ao lado de George Lucas, o homem que mudou sua vida para sempre
 Recentemente Fisher alegou ter tido um caso com Harrison Ford. Ela com 19 e ele com 32 anos
 No ápice de sua beleza, no começo dos anos 1980
 Mark Hamill. Mais do que companheiro de set
 Ao lado de Bill Murray em um dos melhores episódios de SNL na década de 1980. A atriz nutria uma veia para comédia muito grande.
 Clima tenso no set de Star Wars? Não para essa dupla
 Fisher sacaneia o pobre Jabba
 No set do clássico OS IRMÃOS CARA DE PAU. Aykroyd e Fisher, inclusive, tiveram um caso durante o set da comédia
 Billy Dee Williams e Fisher no set de O IMPÉRIO CONTRA-ATACA
 Fazendo comédia em 1981
 Ao lado da mãe e do amigo Chevy Chase
 Lembra da série CONTO DE FADAS? Ela já protagonizou um dos episódios!
 Com o amigo Tom Hanks. A dupla contracenou em dois filmes
 Fisher ao lado de Meryl Streep e Shirley MacLaine, que deram vida à sua autobiografia LEMBRANÇAS DE HOLLYWOOD.
 O trio se encontrou anos mais tarde
 A estonteante beleza de Fisher, já em meados dos anos 1980
 Ao lado de Hugh Hefner, criador da Playboy
 O antes e o depois
 Com seu fiel parceiro. O bulldog era seu companheiro inseparável
Uma de suas últimas aparições

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

domingo, 6 de novembro de 2016

10 ATUAÇÕES FANTÁSTICAS DE VILÕES DE QUADRINHOS

POR: DIEGO SALOMÃO


10-William Dafoe (Duende Verde)
Um dos grandes clichês dos filmes de ação é colocar um ator jovem e desconhecido para fazer o mocinho, e um veterano para fazer o vilão, a fim de equilibrar (e às vezes até inverter) a importância dos personagens. Ótimos exemplos são Gene Hackman em Superman, e Jack Nicholson em Batman.  Pois em Homem-Aranha, enquanto o lançador de teias era vivido pelo jovem Tobey Maguire, o Duende Verde/Norman Osborn ficou a cargo de William Dafoe; astro de filmes como Platoon e Velocidade Máxima 2, ele conseguiu dar ares de dramaticidade e suspense à trilogia do mais adolescente de todos os heróis. É difícil imaginar outro ator fazendo sua cena brigando com o espelho, àquela altura, já tomado por seu lado mau.


9-Hugo Weaving (Caveira Vermelha)
Talvez o mais conhecido vilão de Weaving seja o agente Smith, de Matrix, trilogia essa de que eu particularmente não gosto nem um pouco. Aí vem o filme do Capitão América, e um personagem que lidera o departamento de inteligência nazista, e pretende dar um golpe em Hitler, pois julga que seu plano de extermínio era mais eficiente que o do Führer!!!!! Pois o agente Smith que me perdoe, mas como Caveira Vermelha, Hugo Weaving encarnou a maldade! Com certeza um dos mais assustadores criminosos da Marvel, que foi ao cinema e não decepcionou em nada o público que esperava alguém capaz de gerar torcida pelo incrível patriotismo norte-americano.


8-Aaron Eckhart (Duas-Caras)
Batman sempre confiou no Comissário Gordon para manter trancafiados os bandidos que ele tirava das ruas. Aposta certa, é claro, mas em uma cidade tão suja quanto Gotham City ainda era pouco. Era necessário alguém que agisse nos bastidores da justiça, impedindo que tais criminosos fossem soltos novamente. Assim, entrava em cena o intrépido promotor Harvey Dent; a última ponta do ciclo da justiça, o Cavaleiro Branco, a chance de Bruce Wayne ter uma vida normal! Dent era tudo isso, até que, sequestrado e enlouquecido pelo Coringa, ele abandona qualquer noção de ética, tornando-se o Duas-caras: um louco, que pautava todas as suas ações pelos lados de sua moeda da sorte. Não era propriamente mau, mas a imprevisibilidade de seus atos o tornava uma verdadeira bomba-relógio. E com que classe Eckhart passou de justiceiro a perigo! Quem conhece a carreira do ator, percebe inspirações em personagens passados e o mosaico extraordinário que compõe Harvey Duas-Caras!


7-Lou Ferrigno
Muitos dirão que o maior inimigo do Hulk é o General Ross. Outros dirão que é o Abominável. Talvez encontremos até quem ache que é o Homem-Absorvente (tradução hilária e inevitável). No entanto, se formos pensar bem, Bruce Banner é o único super-herói que não quer ser herói; não quer se transformar. Seu grande sonho é se ver livre dos poderes que em sua opinião estão mais para uma maldição. Pois se a computação gráfica foi capaz de transformar qualquer ator no gigantesco monstro verde, quando ela não existia foi Lou Ferrigno que pintou o corpo e transformou Banner, literalmente, em outra pessoa! Era tosco? Era, mas mostrou claramente a dicotomia entre os dois personagens. 


6-Michelle Pfeiffer (Mulher-Gato)
Michelle Pfeiffer não é apenas mais um rostinho bonito por dois motivos. 1: ela é INTEIRA bonita! 2: que atriz espetacular! Novamente um inimigo do Batman com sérios problemas psicológicos, Selina Kyle é inicialmente uma secretária tímida e acostumada a ser pisoteada pelos homens, até que, após sofrer uma tentativa de assassinato, desperta o instinto felino e o sex appeal que nem ela imaginava ter, transformando-se numa das mais sexys e perigosas vilãs de todos os tempos! A cena de sua descoberta é uma das obras-primas de Pfeiffer e do diretor Tim Burton.


5-Ian McKellen (Magneto)
A história dos X-Men, e em especial da relação entre o Professor Xavier e Magneto é uma das mais interessantes do mundo dos super-heróis. Mutantes poderosos e marginalizados por uma humanidade preconceituosa, ambos foram grandes amigos e chegaram a lutar juntos. Entretanto, enquanto Xavier era um pacifista, e buscava a convivência harmônica com as pessoas normais, Magneto defendia apenas os mutantes, o que o levava a níveis de crueldade abomináveis – ainda que, em sua visão particular, movido pela melhor das intenções: a proteção de sua espécie. O fato é que o poder e a liderança de Magneto, além do ódio que despertava nos comandados de Xavier, foi viabilizado no cinema pela fleuma e arrogância encarnadas brilhantemente pelo inglês Ian Mckellen. Um vilão perigoso, de moral muito particular e ética altamente questionável, mas que jamais perdeu a elegância. Afinal, que outro criminoso é preso e joga xadrez na cadeia com o herói da história?


4-Margot Robbie (Arlequina)
Uma personagem jovem, que sempre viveu à sombra de seu amante e comparsa. Essa era a Arlequina até Margot Robbie dar as caras em Esquadrão Suicida. Aí, a vilã de segundo plano virou heroína improvável, símbolo sexual, toque de humor, única a escapar das críticas, e possivelmente o segundo inimigo do Batman a ganhar um filme-solo, à frente até mesmo de seu “pudinzinho”, o Coringa! Nada mau para uma primeira aparição, hein?


3-Danny de Vito (Pinguim)
Originalmente, o Pinguim não tem nada de animalesco. Trata-se apenas de um apelido, em virtude de seu físico baixo e um pouco gordo. No entanto, quando o personagem chegou às mãos de Tim Burton, ele tratou de transformá-lo em um grotesco híbrido entre um homem um pinguim, e foi a atuação inigualável (e o físico meio esquisito) de Danny de Vito que possibilitou essa guinada na história. Ok, há o trabalho de maquiagem, mas e o jeito de andar? De mexer as “mãos”? De Vito não foi apenas um vilão, foi um homem-animal perfeito!


2-Gene Hackman (Lex Luthor)
Então, sabe aquela técnica de aumentar a importância dos antagonistas através do nível dos atores? Pois nos filmes de super-heróis, ela começou com esse senhor! Gene Hackman viveu o primeiro e até hoje mais perfeito e completo Lex Luthor do cinema. Um misto de criminoso, humorista e psicopata, que só poderia mesmo ser parado pelo Homem de Aço. Hackman possui uma vasta galeria de filmes e premiações, incluindo coisas como Mississipi em Chamas, A Firma e Operação França. No entanto, vale a pena guardar com carinho um lugar para o seu Lex Luthor. Afinal, ele criou um padrão utilizado há quase 40 anos.


1-Heath Ledger (Coringa)

Quando Jack Nicholson fez o Coringa em 1989, o primeiro após a série pastelão, todos criam que aquela seria a versão definitiva do personagem. E foi... Até 2008, quando Heath Ledger surgiu, de maquiagem borrada, cabelão despenteado e com um único propósito em suas ações: anarquia. Enquanto o (brilhante) Coringa de Nicholson era um gangster promovido a super-vilão, Ledger fez um louco, cujo único propósito era ver o circo pegar fogo. Afinal, como se para os planos de alguém que não tem planos? Seu personagem foi tão impactante e assustador, que tirou o Cavaleiro das Trevas da prateleira de ação e jogou junto com filmes de suspense e até terror. A estranha e macabra morte do ator antes das filmagens terminarem também serviu para aumentar o folclore em cima do personagem. Para mim, o maior vilão dos filmes de super-heróis. 

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

10 ATUAÇÕES FANTÁSTICAS DE HERÓIS NO CINEMA

POR: DIEGO SALOMÃO
COM COLABORAÇÃO DE: RICHARD CARDOSO


10-Samuel L. Jackson (Nick Fury)
Como se coordena uma equipe formada por um super-soldado, um playboy que provavelmente vai rir de tudo o que você fala, um homem que tem sérios problemas de auto-controle e um (apenas) deus? Fácil, só chamar Samuel L. Jackson! Porque quando o seu Nick Fury fala, nem Capitão América, nem Tony Stark, nem Hulk e nem Thor ousam desobedecer. Quer dizer, até ousam, mas sempre com o pé atrás. Afinal, o homem que reuniu os Vingadores merece respeito, não?



9-Tobey Maguire (Homem-Aranha)
Muita gente não gostou da atuação de Maguire. Cara de bobo, nerd, tem cara de quem sofria bullyng na escola, blábláblá... O que ninguém percebe é que a descrição não é sobre ele, mas sobre Peter Parker! Naquele início de século XXI, quando os heróis no cinema praticamente se restringiam a Batman e Superman, foi Maguire, com seu Homem-Aranha, que meteu o pé na porta e botou mais uma celebridade dos quadrinhos na telona. Nerd, sim; cara de bobo, sim; mega-produção, sim; e muito, muito fiel aos HQ’s!


8-Edward Norton (Hulk)
OK, foi apenas um filme – O Incrível Hulk (2008) – mas que atuação magnífica teve Norton como o atormentado Dr. Bruce Banner. Mesmo sendo um ator consagrado, ele não permitiu que seus muitos personagens viessem à tona, e encarnou com maestria o que se pode chamar de uma versão moderna de “O Médico e o Monstro”. Até seu aspecto físico falou por ele no filme: um personagem que, antes de sua mutação, não impunha o menor respeito nas pessoas a sua volta. Depois dela, bem...


7-Chris Evans (Capitão América)
Evans já tinha ido bem como o inconsequente e deslumbrado Tocha-Humana nos dois filmes do Quarteto Fantástico. Aí, fez exercícios, mudou a alimentação, trocou o sorriso irônico por um patriotismo inabalável e ressurgiu como Steve Rogers; o lendário Capitão América, símbolo da entrada norte-americana na Segunda Guerra Mundial. Um super-soldado, sério, emotivo, responsável, líder natural, e que se destacou não apenas em seus filmes, mas também comandando a equipe dos Vingadores.


6-Antonio Banderas (Zorro)
Quem disse que o mundo dos super-heróis só existe para a Marvel e a DC Comics? Não, meus amigos. Muito antes de Bruce Wayne se transformar em morcego, a alcunha de “Cavaleiro das Trevas” já era por direito de outro aristocrata de roupa preta, que lutava pelos fracos e oprimidos. No épico A Máscara do Zorro, Banderas interpretou, não Diego de La Vega, mas seu sucessor, Alejandro; o malandro incumbido de seguir com a capa, a espada e o título de nobreza que escondia sua verdadeira e mais nobre missão. E com que perícia ele foi de gatuno a herói! A mesma com a qual arrancou as roupas de Catherine Zeta-Jones usando a espada!


5-Halle Berry (Tempestade)
Halle Berry ficou tão marcada pelo horroroso filme-solo da Mulher-Gato, que muitos acabam se esquecendo de que, durante 14 anos, ela deu corpo à principal personagem feminina da Marvel. Como integrante dos X-men, Tempestade sempre foi o braço direito do Professor Xavier, muitas vezes sendo o elo entre os bonzinhos Ciclope e Jean, e o carrancudo Wolverine. Também era ela a principal responsável pelo treinamento dos jovens mutantes. Claro, tudo isso veio dos quadrinhos, e aí surge a pergunta: e fisicamente? Fisicamente, Halle Berry é a Tempestade!

4-Hugh Jackmann (Wolverine)
Se você assistiu Van Helsing, Os Miseráveis, Os Suspeitos, ou qualquer outro filme de Hugh Jackmann com certeza estranhou a ausência das famosas garras do Wolverine. Pudera, né? São 16 anos e oito filmes com o personagem (o 9º sai no ano que vem) e até fisicamente já é difícil dissocia-los: a barba, o cabelo, o corpo... Jackmann incorporou tudo, inclusive os olhares e expressões faciais típicos do mais sisudo dos X-men. Ele já disse que vai abandonar o personagem, mas será que o Wolverine vai abandoná-lo algum dia?


3-Robert Downey Jr. (Homem de Ferro)
Para quem não é do mundo dos HQ’s, pode-se dizer que existem duas fases para o Homem de Ferro: antes de Downey e pós-Downey. Antes, um personagem obscuro da Marvel Comics, que nunca chegou nem perto da popularidade de um Homem-Aranha, Wolverine, Capitão América ou Hulk. Depois, um super-astro, que tomou conta da televisão, do Netflix, do Youtube e até dos filmes de seus amigos, em que é citado com frequência. Culpa apenas do Universo Cinematográfico Marvel? Sim, mas culpa principalmente de Robert Downey Jr; excelente ator, que interpretou até Chaplin no cinema, e colocou sua característica ironia a serviço de Tony Stark, dando-lhe um status de galinha dos ovos de ouro da Marvel e praticamente inviabilizando qualquer interpretação futura do personagem. 

2-Patrick Stewart (Professor Xavier)
Ser o mutante mais poderoso do mundo e mentor intelectual da equipe mais forte já vista nas telas e quadrinhos só poderia ser mesmo uma tarefa para o homem que substituiu o capitão James T. Kirk em Star Trek. Pois para além de semelhanças físicas com o Professor Xavier, Patrick Stewart deu ao personagem toda a dignidade que ele merecia, jamais confundindo sua calma e sabedoria com indiferença ou fragilidade física. Atuação definitiva para um herói tão diferente dos demais.


1-Christopher Reeve (Superman)

Só podia ser ele! Antes, muito antes de Universo Marvel de Cinema, Universo DC, filmes do Batman, Vingadores, X-men... Antes de tudo isso, Christopher Reeve encarnou o Homem de Aço de forma tão incontestável que há quase 40 anos, as imagens que se tem do herói são as protagonizadas por ele, como a clássica em que, correndo, Clark Kent, abre a camisa e mostra o famoso “S” para o público. Nos últimos dez anos de sua vida, Reeve viveu em uma cadeira de rodas, consequência de uma queda andando a cavalo. Fatalidade, é claro; ainda mais para quem foi e sempre vai ser o Superman!

domingo, 4 de setembro de 2016

AQUARIUS: menos política, mais nostalgia


Por Carlos Larios

Começa a sessão. Subitamente a tela é tomada por uma antiga foto da Praia de Boa Viagem, em Recife. A voz cortante do já esquecido (e genial) Taiguara reverbera na sala. "Hoje. Trago em meu corpo as marcas do meu tempo". Esse trecho já sintetiza todo o contexto de AQUARIUS, nova obra de Kleber Mendonça Filho.

Desde sua tempestuosa estreia em Cannes, quando elenco e diretor manifestaram posição contrária ao impeachment, até a data de lançamento no começo de setembro, AQUARIUS se tornou um símbolo cultural de resistência contra o atual governo vigente no Brasil.

Detratores enfurecidos prometeram boicotar o filme. Já entusiastas apaixonadas declararam total apoio à obra de KMF. A questão é que o contorno político de AQUARIUS tirou o verdadeiro enfoque do filme: a arte para ser contemplada, independentemente de ideologia ou leis de incentivo fiscal do governo.

Apesar de tocar em velhas feridas da cambaleante sociedade brasileira, pincelando sutilmente temas como disparidades entre classes sociais, sexismo e preconceitos velados, o filme é na sua essência uma obra sobre lembranças e nostalgia.


Os três capítulos que dividem AQUARIUS, contextualizam essa tese sob a ótica da protagonista Clara. A aposentada jornalista musical, escritora e voraz colecionadora de vinis é um daqueles raros casos em que a ficção transcende a película. A personagem vivida por uma sobrenatural Sônia Braga é de um realismo desconcertante.

Entre gestuais intrínsecos de Clara, fica difícil o espectador não torcer por sua personalidade aguerrida e determinada em conquistar seus objetivos. Nesse caso, permanecer no apartamento em que vivenciou, por mais de três décadas, os anos mais felizes de sua vida. Local onde a lembrança é sua companheira mais devota. Onde as grandes conquistas de sua trajetória estão enraizadas em cada aposento. 

Porém, com exceção do apartamento de Clara, o condomínio Aquarius foi completamente adquirido por uma poderosa construtora, que planeja demolir o local para erguer um moderno e imponente edifício. Diego (Humberto Carrão) é o ambicioso executivo da companhia que tenta negociar o imóvel de Clara. Mesmo com uma oferta milionária para ceder seu aconchegante espaço, a protagonista resiste bravamente as investidas da empresa

Nesse embate entre Davi e Golias, quem sai ganhando são os espectadores. É difícil não criar empatia com a personagem, sobretudo depois do primeiro ato, onde o passado da protagonista vem à tona de forma tocante. 



Os diálogos no transcorrer da trama são inspirados, e se alternam entre drama familiar e humor cotidiano. Válido ressaltar o desempenho de todo o elenco que, com muito êxito, entrega caracterizações palpáveis. Em alguns momentos é possível esquecer de que se trata efetivamente de uma ficção. 

A câmera de KMF testemunha os atos de sua personagem, focando a ação no rosto de Sônia Braga. Por todo o filme, salvo raras exceções, Clara se faz presente. Seja em planos abertos, fechados, com zoom, em travelling ou steady cam. O diretor não se restringe a uma forma de filmar. Cada ação da personagem requer um toque especial da câmera, reforçando as ações da musa obstinada. 

A trilha sonora também é uma atração a parte. As canções entoadas durante a metragem de AQUARIUS foram escolhidas com muito esmero, já que reforçam algumas passagens da película. Em determinado momento, Clara se aborrece com a música entoada bem acima de seu apartamento. Sem hesitação, a personagem se desloca decisivamente para sua coleção de vinis, e retira uma cópia de JAZZ, um dos álbuns mais notórios do Queen. 

Com muita elegância, a personagem sumariamente retira o disco e o põe para tocá-lo na vitrola. A partir de então as vozes harmoniosas do quarteto britânico em Fat Bottomed Girls, sobrepõem-se ao batidão mambembe do andar superior. Aqui a música é uma personagem necessária para esse filme que é essencialmente melódico. Gilberto Gil, Altemar Dutra, Maria Bethânia, Reginaldo Rossi, Alcione, Boca Livre, Roberto Carlos e o já citado Taiguara complementam a eclética seleção musical de Kleber Mendonça Filho.




AQUARIUS é um filme irretocável e bastante acessível, se comparado com o antecessor O SOM AO REDOR. É divertido, crítico e aterrador em muitos momentos. Um pastiche indistinto da sociedade brasileira. Sobretudo do cenário das grandes metrópoles, onde o cidadão comum é engolido de forma submissa por grandes corporações, sem ter muito o que fazer. Mas independentemente de briga de classes, AQUARIUS é uma obra sobre o que há de mais valioso na vida. A importância da memória e da nostalgia como um combustível vital.

Se for fã de cinema, desvencilhe-se de preconceitos ideológicos, e tenha a experiência de assistir AQUARIUS em alto e bom som. 

NOTA: 9,0




 

Blogroll

free counters

Minha lista de blogs