quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

SOLARIS (1972)

   Andrey Tarkovskiy era um dos cineastas que mais transgrediam a linha tênue entre o cinema e a filosofia. Suas películas são marcadas pela contemplação do indivíduo, dotado de lirismo e técnica impecável.
O diretor soviético é uma referência em ensino da linguagem cinematográfica, além de sua filmografia ser objeto de estudo e campo fértil para teses acadêmicas. Suas obras anticomerciais opunha-se a grandiloquência do cinema soviético que vingava durante a Guerra Fria. O espírito nacionalista da Mosfilm (maior produtora cinematográfica da URSS) consolidava-se como uma bandeira de que o socialismo vigente no período, ainda se preocupava com a arte e o espetáculo de suas produções.

   Foi o poderoso estúdio soviético, que em 1968 propôs à Tarkovskiy, a adaptação cinematográfica da obra literária "Solaris”, do consagrado escritor polonês Stanislaw Lem. A princípio o filme deveria ser uma ficção científica rica em efeitos especiais e história marcante. Ao invés disso, Tarkovskiy transformou "Solaris" em um complexo ensaio sobre o subconsciente humano, e a infindável ânsia da ciência pelo conhecimento.




   A premissa do filme conta a história de Kris Kelvin, renomado psicólogo, que é chamado a integrar a tripulação da estação espacial que orbita em Solaris. Depressivo pela perda de sua esposa, que morrera há dez anos, Kelvin contempla a natureza bucólica da fazenda de seu pai. Na véspera de sua partida para o centro de estudos espacial, o psicólogo recebe a visita de Henri Berton, um antigo comandante que já esteve no misterioso corpo celeste. Ele alerta Kelvin sobre os perigosos do planeta, mas o psicólogo o ironiza depreciando suas constatações.




   No dia seguinte Kelvin parte para a estação espacial, a fim de integrar a tripulação formada por três renomados cientistas. Quando chega ao local, o psicólogo é surpreendido por uma sucessão de acontecimentos insólitos. Ele descobre que um dos cientistas cometera suicídio, e começa a desconfiar da sanidade dos tripulantes remanescentes. Logo em seguida Kelvin presencia uma mulher caminhando pelos corredores da estação espacial.



Após despertar de seu primeiro sono na nave, o psicólogo descobre que a misteriosa presença feminina não era uma mera alucinação, mas a fiel reprodução de sua finada esposa chamada Hari. Os cientistas explicam à Kelvin que o oceano de Solaris sonda o cérebro e materializa o subconsciente humano, reproduzindo lembranças.




   O psicólogo passa a se relacionar com o clone extraterreno de sua antiga mulher, levando-o ao embate entre a razão e a emoção.  Sua relação com Hari é censurada pelos demais tripulantes, que o incentivam a livrar-se do ímpeto afetuoso que o acomete. Kelvin conclui que o autoconhecimento é o mais importante das descobertas, e que Solaris é a plausível simbologia de sua tese. O depressivo desfecho consolida a visão de Tarkovskiy em relação à humanidade, tal como é colocada em discussão durante um dos embates dos personagens onde um dos cientistas conclui que "o homem precisa de homem". A ilha recém-formada em Solaris, no término do filme, representa a transição psicológica do Kelvin, que se desvincula do atormento da perda de sua finada esposa, revelando sua dependência pela proteção paterna.



   Tal como os quadros de Bruegel expostos na biblioteca da estação espacial do filme, "Solaris" é pura arte. Com belíssima adaptação sonora de Eduard Artemyev para trilha de Johann Sebastian Bach, e deslumbrante fotografia de Vadim Yusov, Tarkovskiy mostrou ao mundo que a URSS estava intelectualmente ativa durante a Guerra Fria, independendo de suas ideologias políticas. 

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