sexta-feira, 22 de julho de 2011

Breve história do horror japonês - PARTE 2

 ATENÇÃO: ESSE ARTIGO É CONTINUAÇÃO DESSE

Em meados da década de 60, depois do apogeu de Godzilla nos cinemas japoneses, a Terra do Sol Nascente exportou talentos para a Inglaterra e EUA. O famoso cineasta Kinji Fukasuka dirigiu em 1968, "O Lodo Verde", ficção de terror que é considerada um legítimo "trash". A clássica "podreira" de Fukasuka rendeu uma filmografia fora do Japão bastante rentável. O cineasta ficou conhecido por co-dirigir o drama de guerra"Tora! Tora! Tora!" e o japonês "Batalha Real".

"O Lodo Verde"

Paralelo a franquia do lagarto-gigante, o Japão produziu outros cults de monstregos que vale mencionar. É o caso de "Yôkai daisensô" (1968) de Yoshiyuki Kuroda, divertida fantasia que foi refilmada por Takashi Miike no filme homônimo de 2005. O sucesso da película foi grande no Japão que ganhou duas sequências. "Yôkai hyaku monogatari" e "Tôkaidô obake dôchû" foram as continuações do cultuado filme de monstros. A franquia desconhecida no ocidente é uma aula de imaginação, repleto de adoráveis e horrendas criaturas que só o cinema nipônico de horror pode proporcionar.

Alguns dos peculiares monstros da franquia "Yokai Monsters"

Nesse período o cinema de arte flertou com o gênero fantástico no clássico "Môjû" (1969) de Yasuzo Masumura. O filme que conta a história de um escultor cego obcecado por uma modelo que aprisiona em seu atêlie, criou uma estrutura inovadora no cinema nipônico; o terror psicológico. Grande clássico que levou um tipo de violência jamais vista no Japão. Apesar de ser cultuado, a película baseada em um conto do polêmico autor de obras violentas e sensuais Rampo Edogawa, foi um fiasco nas bilheterias do país. Mas como um bom vinho, "Môjû" foi cultuado por cinéfilos anos depois, tornando-se um dos filmes japoneses mais aclamados de todos os tempos.


"Môjû" de Yasuzo Masumura

Com o virar da década, o Japão vivenciaria a decadência do seu renomado cineasta Akira Kurosawa que tentara por fim a sua própria vida. Além disso existia o descontentamento da crítica com a maior parte das produções do período, pois muitas eram taxadas como "enlatadas" . Apesar disso surgiram alguns cineastas interessantes como Teruo Ishii e seus filmes violentos, que muitas vezes tranformava uma frágil mulher nipônica em uma máquina indestrutível. É o caso de "Blind Woman´s Curse" (1970), terror ao melhor estilo de duelos de espadas, gore e artes marciais. Ishii também dirigiu o cultuado filme de ação "Female Yakuza Tale" (1973) protagonizado por Reiko Ike.

Cenas de "Blind Woman´s Curse"


Se não bastasse as adaptações alemãs, espanholas, inglesas e italianas da obra vampiresca de Bram Stoker, o Japão também produziu  alguns filme sobre Drácula, que eventualmente não decolaram por lá.

"Lake of Dracula" (1971)

Recém descoberto pela prestigiada distribuidora americana Criterion, "Hausu" de Nobuhiko Ôbayashi é uma divertida comédia de terror ao estilo nonsense. A fotografia colorida da película é baseada em desenhos feitos por crianças, por isso ela é tão forte e tosca. Em "Hausu" sete garotas passam as férias de verão em uma casa assombrada, e poucas sobrevivem. Os efeitos são bem elaborados, e só depois de trinta anos a película japonesa recebeu sua devida atenção.




A exemplo de "Môjû", o cinema de arte mais uma vez se encontra com o terror em uma obra do prestigiado cineasta Nagisa Ôshima. Em "O Império da Paixão" (1978), o fantasma de um marido traído persegue o amante e a mulher adúltera nesse filme vencedor de melhor diretor no Festival de Cannes. O filme também é marcado pelo erotismo, aspecto muito comum durante o fim da década de 70 no cinema japonês. Em 1980 "Tsigoineruwaizen" de Seijun Suzuki também marcou pela mesclagem artística com o gênero de terror. O fillme de Suzuki, conhecido diretor japonês de filmes sobre a Yakuza, tem um estilo surreal e lembra bastante os giallos italianos.

"O Império da Paixão"
 "Tsigoineruwaizen"

Outro filme de terror lascivo que marcou o período foi o cult fetichista "Beautiful Girl Hunter" de Noribumi Suzuki. O filme sobre sequestro mostra fortes cenas de sexo e tortura, aos moldes doentios que só o cinema nipônico pode proporcionar.
"Beautiful Girl Hunter"

Além do apelo artístico e erótico no cinema de horror, os japoenes também levaram esse gênero para seus conhecidos animês. Os desenhos animados nipônicos eram muito visto pelos adultos, portanto merecia uma abordagem mais séria e assustadora. "Harmagedon" (1983) de Rintaro, "Tenshi no Tamago" (1985) de Mamoru Oshii, "Meikyû monogatari" de Katsuhiro Ohtomo (1987), "Yôjû toshi" (1987) de Yoshiaki Kawajiri, "Teito Monogatari" de Akio Jissoji e "Shôjo tsubaki: Chika gentô gekiga" (1992) de Hiroshi Harada, possuiam uma temática de filmes de terror em meio as clássicas animações nipônicas.

"Teito Monogatari"

 "Meikyû monogatari"

 "Shôjo tsubaki: Chika gentô gekiga"


A década de 80 em geral não teve grandes obras de terror, mas é válido destacar algumas como "Denchu Kozo no boken" e "Tetsuo", ambos de Shinya Tsukamoto, além de "Evil Dead Trap" de Toshiharu Ikeda e "Sûito Homu" de Kiyoshi Kurosawa. O dois primeiros filmes citados mesclam tecnologia em produções estilosas e difíceis, principalmente "Tetsuo" um dos filmes japones mais conhecidos em todo mundo. Já "Evil Dead Trap" é um filme aos moldes de "Videodrome" de David Cronenberg, pois aborda os snuff-movies e o poder da televisão. "Sûito Homu" é uma divertida adaptação do game da Capcom para o NES, "Sweet Home" para as telas do cinema. Pouco conhecido no ocidente, o filme possui grandes méritos por ser o debute do consagrado Kiyoshi Kurosawa, além de contar com  elaborados efeitos especiais do americano Dick Smith ("O Poderoso Chefão" e "O Exorcista"). Esse, como "Hausu", merece ser descoberto pelos fãs de terror. Apesar de histórias e abordagens diferentes, os efeitos dos filmes citados são excelentes, e ajudaram a definir a história do cinema do gênero no Japão.

 "Denchu Kozo no boken"
 "Tetsuo"
 "Evil Dead Trap"
 "Sûito Homu"

Mas antes de finalizar a década de 80, não posso me esquecer dos filmes extremos da terra do sol nascente. Afinal os japoneses são excelentes em chocar através de cenas de desmembramentos muito bem efetuadas que até parecem reais. Os filmes na sua granda maioria não tem história relevantes, portanto são feito exclusivamente por mentes doentias e para um público sádico. O curta "Guinea Pig" de 1985 ficou famoso por suas cenas de desmembramento filmadas de forma amadora. Muitos acreditam até hoje que o filme possa ser um "snuff movie". Dirigido por Satoru Ogura, "Guinea Pig" fez escola no Japão, além de dar origem a uma franquia de "podreiras". A mais interessante na minha opinião é "Ginî piggu: Manhôru no naka no ningyo" de Hideshi Hino, onde um artista encontra uma sereia ferida e resolve ampara-la na banheira de sua casa. Só que a criatura marítima possui uma doença mortal na qual brotam diversos tumores de sua epiderme, deformando-a gradativamente. Doentio, mas interessante.

"Ginî piggu: Manhôru no naka no ningyo"

Além da famosa franquia, o cinema japonês criou um subgênero chamado "japanese shocker" com películas de terror extremo e para estômagos fortes. As mais famosas são, "Bijo no harawata" de Gaira e a franquia "Ooru naito rongu" de Katsuya Matsumura.

A década de 90 foi um grande marco para o cinema japonês em geral. Além da morte de Akira Kurosawa, os japoneses colecionavam prêmios consagrados de cinema com películas de Takeshi Kitano e Shohei Imamura. Além de surgir gandes nomes como Takashi Miike, Kiyoshi Kurosawa e Hideo Nakata. Com a alvorada do novo século, e com sucessos como o desenho "Akira", os cults "Tetsuo" e "964 Pinocchio", o Japão investiu em algumas produções cyberpunks. É o caso da continuação de "Tetsuo" em 1992 chamado de "Tetsuo II: Body Hammer", e quatro anos mais tarde o estranho "Rubber´s Love" de Fukui, mesmo diretor de "964 Pinocchio".

"964 Pinocchio"
"Rubber´s Love"

Eis que surge 1998, o ano que todos os ditos fãs de filmes de terror japoneses mais esperaram. O ano de "Rasen" de Jôji Iida, filme um pouco desconhecido mas que ajudou a dar origem ao "Ringu" (Chamado), e aos famigerados espíritos cabeludos. Mas foi Hideo Nakata que popularizou o gênero que ficou conhecido como J-Horror. Surgiram então "Ju-on" de Takashi Shimizu (O Grito), "Dark Water" do próprio Nakata,  "Chakushin ari" de Takashi Miike, que fizeram sucesso no ocidente graças a seus remakes estadunidenses.

 "Ringu"
 "Ju-On"
 "Chakushin ari"

Paralelo isso o Japão produzia películas mais "cerebrais" como as do cineasta Kiyoshi Kurosawa, e as mais psicológicas como o de Takashi Miike. O primeiro cineasta, que não tem nenhum parentesco com o lendário Akira Kurosawa, dirigiu alguns filmes de terror bem interessantes como; "Jigoku no Keibîn" (1992), o excelente "Cure" (1997) e o mais famoso "Kairo" (2001), que foi refilmado nos EUA, ganhando até uma franquia chamada "Pulse". Kurosawa partiu para um terror psicológico singular com conteúdo crítico implícito.

"Cure"
"Kairo"
Outro cineasta que teve sua filmografia reconhecida ainda na década de 90 foi Takashi Miike. Mas foi no início dos anos 2000 que o cineasta nipônico dirigiu "Audição", película que "reascendeu" a chama do torture porn. Mais de dois terços do filme limita-se a mostrar um viúvo em busca de uma parceira ideal. Ele encontra uma bela e jovem garota que esconde seu verdadeiro caráter por trás de uma aparência serena e afável. O desfecho da trama é conhecido por quase todos. O filme é chocante por sua mesclagem de gêneros, por isso o filme ficou tão conhecido. Miike também dirigiu outras películas de terror como o já citado  "Chakushin ari", além de "Gozu", "Izo", "Yôkai daisensô", entre outros.

"Audition"

Nos últimos anos, o terror japonês produziu algumas obras de terror bastante interessantes em meio algumas picaretagens. Destacaram-se "Battle Royale" (2000) de Kinji Fukasaku, "Suicide Club" (2001) de Shion Sono, "2LDK" (2003) de Yukihiko Tsutsumi, "Marebito" (2004) de Takashi Shimizu, "Kansen" (2004) de Masayuki Ochiai, "Mail" (2004) de Iwao Takahashi, "Haze" (2004) de Shinya Tsukamoto, "Noroi" (2005) de Kôji Shiraishi, "Noriko no shokutaku" de Shion Sono, "Tantei Monogatari" (2007) de Takashi Miike, "Tokyo Gore Police" (2008) de Yoshihiro Nishimura e "Machine Girl" (2008) de Noboru Iguchi.

 "Battle Royale"
 "2LDK"
 "Noroi"
"Tokyo Gore Police"

Espero que tenham gostado. Acompanhe as outras matéria da história do gênero terror e comentem. Obrigado





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